Hoje Marília Pêra completa 65 anos. Sendo uma das maiores atrizes não só do teatro brasileiro, mas mundial, a data permite reverenciá-la também como uma das grandes damas da televisão. Revendo a trajetória na TV, o seu genial talento passou a ser visto desde 1965, no início da TV Globo. Marília foi a principal atriz das três primeiras novelas da emissora: "Rosinha do sobrado", "A moreninha" e "Padre Tião", todas com dramaturgia de Moysés Weltman, direção de Graça Melo e tendo Gracindo Júnior como galã. Neste período ainda fez "Um rosto de mulher" (1966), de Daniel Más, direção de Sérgio Britto, atuando ao lado de Nathalia Timberg, Carlos Alberto e Leila Diniz.

Depois vai para São Paulo, onde desenvolve sua carreira no teatro, e volta às novelas em 1968, na TV Tupi, com "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, interpretando Manoela e começando a tornar-se conhecida mais nacionalmente. Substituindo "Beto", a TV Tupi lança "Super plá" (1969), também de Bráulio, na qual Marília interpreta a personagem mais decisiva de sua carreira: Joana Martini. A novela não fez o mesmo sucesso de "Beto", mas os personagens de Marília e Hélio Souto (Baby Stamponato) tiveram uma repercussão tão fabulosa que Bráulio escreveu para eles a peça teatral "A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stamponato", produzida pela própria Marília. A peça fracassou em São Paulo, mas Marília não desistiu e a trouxe para o Rio transformando-a num sucesso absoluto, o que permitiu o convite da TV Globo, já líder de audiência em todo o Brasil, para estrelar, ao lado de Francisco Cuoco, a novela "O cafona" (1971), do próprio Bráulio Pedroso. Interpretando Shirley Sexy na novela, Marília arrebatou o Brasil inteiro que se encantava com ela e, ao mesmo tempo, reconhecia o seu excepcional talento. Com "O cafona", Marília transformou-se, com Regina Duarte, Glória Menezes e Dina Sfat, no quarteto principal de atrizes da emissora.Logo em seguida, a batalhadora motorista de táxi Noeli de "Bandeira 2", de Dias Gomes, comoveu o País, e Marília contracenou com Paulo Gracindo (o inesquecível Tucão), fazendo par com José Wilker, que estreava nas novelas. Em "Uma rosa com amor" (1972/73), Vicente Sesso escreveu para Marília uma das mocinhas mais bem construídas da teledramaturgia: Serafina Rosa, personagem de extrema empatia, formando com Paulo Goulart um casal inesquecível, e contracenando com outras duas estrelas - Tônia Carrero e Yoná Magalhães - além de Grande Otelo.Com uma posição estelar solidificada na TV Globo, comanda com Paulo José o elenco de "Supermanoela" (1974), de Walther Negrão, fazendo a divertida empregada doméstica Manoela. Afasta-se da televisão após o término da novela. Deixando muitas saudades no seu público e privando este do contato com o seu talento, s¢ retorna à teledramaturgia em 1982 na minissérie "Quem ama não mata", de Euclydes Marinho, numa fascinante interpretação dramática, formando par com Claudio Marzo. Em 1987, finalmente volta às novelas em "Brega e chique", de Cassiano Gabus Mendes, outra explosão, e sua Rafaela Alvaray é primorosa. A impressionante interpretação como a governanta Juliana, de "Primo Basílio" (1988), adaptação de Gilberto Braga, é também um dos momentos mais marcantes da história da nossa teledramaturgia. Em seguida, volta a reencontrar Francisco Cuoco em "Lua cheia de amor" (1990), numa interpretação humana e divertida de Genu, a "Dona Xepa" de Pedro Bloch. Faz a minissérie "Incidente em Antares" (1994), onde atua pela primeira vez com Fernanda Montenegro na TV Globo. Mais dois reencontros: com Paulo Goulart, na novela "O campeão" (1996), da TV Plus, como a tresloucada Elizabeth, e com Agildo Ribeiro, em "Mandacaru" (1997), da TV Manchete, como a impagável Isadora.Volta à Globo em "Meu bem querer" (1998), de Ricardo Linhares, no papel da deliciosa vilã Custódia Serrão. Depois de uma participação decisiva em "Os Maias" (2001), mais reencontros: com Luís Gustavo, em "Começar de novo" (2004), de Antônio Calmon, no papel de Vó Doidona, e com José Wilker, em "JK" (2006), de Maria Adelaide Amaral, como Sarah Kubitischek. A sua Milu, de "Cobras e lagartos" (2006), de João Emanuel Carneiro, torna-se o centro das atenções, e atualmente, quando Gioconda, de "Duas caras", entra no ar, a tela da TV ganha uma luminosidade especial, "acorrentando", mais uma vez, a atenção do público perante sua atuação.

Marília apresentou ainda o programa "Viva Marília" (1973), teve participação fixa no "Fantástico" (1973), no "Planeta dos homens" (1981), e atuou em alguns "Casos especiais", como "A megera domada" (1972), com Jardel Filho, "Caminhos do coração" (1974), de Domingos Oliveira, e "O homem que veio de Minas" (1983). O talento de Marília Pêra valoriza de tal forma a teledramaturgia brasileira, que confere à televisão um prestígio artístico muito especial. Tal talento é sinônimo de educação artística e cultural para a população brasileira. Parabéns, Marília!