Lá se vão mais de 30 anos desde que Lúcia Coelho criou o grupo Navegando. Trata-se, sem dúvida, de um feito a ser comemorado e nada mais justo do que sua vitória recente na categoria especial do Prêmio Zilka Salaberry, que a contemplou também pelos 40 anos de atividades contínuas dedicadas ao teatro infanto-juvenil.

À frente da montagem de "O ovo de Colombo", que também saiu do Zilka Salaberry com o prêmio de melhor ator para Marcelo Dias, Lúcia Coelho vem formando e influenciando gerações de atores, valendo citar Zezé Polessa, Daniel Dantas, Karen Accyoli, Cica Modesto, Fabio Junqueira, Caio Junqueira, Fabio Pillar, Bia Lessa e Maria Cristina Gatti. "Antes eu achava que o grupo existia para morrer junto. Atualmente, percebo que cada um deve seguir o seu próprio caminho", assume.

Criado em 1977, o Navegando surgiu numa época bastante promissora. Basta lembrar que diversos grupos jovens despontaram na virada dos anos 70 para os 80, como o Asdrubal Trouxe o Trombone, o Manhas e Manias e o Pessoal do Despertar. "As décadas de 70 e 80 foram aquelas em que éramos felizes e não sabíamos. Achávamos que as coisas seriam cada vez melhores", relembra Lúcia Coelho, que foi influenciada por Ilo Krugli e Pedro Domingues, quando desembarcaram no Brasil vindos diretamente da Argentina, e começou a fazer teatro como professora do Colégio Bennett, há cerca de 40 anos.

"O Bennett era a escola-modelo do Brasil, algo que não existe mais. Levávamos os alunos a fazerem descobertas por si mesmos. Acho que só as pessoas criativas terão chance no futuro. A única coisa que as máquinas não farão é criar", diz Lúcia, que, após quase dez anos trabalhando com alunos no Bennett, decidiu fundar com eles o Navegando. "Fiquei arrasada quando me dei conta de que iriam se formar", conta.

Foi uma sábia decisão e a trajetória do Navegando se revelou bastante promissora, a exemplo de espetáculos como “Tá na hora, tá na hora!”, “Bodas de Fígaro”, “Pianíssimo”, “Bicho esquisito” e “Galileu Galilei”, encenados ao longo do tempo. O próprio "O ovo de Colombo" foi montado, pela primeira vez, no Bennett, no formato de teatro de bonecos. "Sempre foi a minha peça preferida", assume Lúcia, em relação ao texto de Marília Gama Monteiro, que decidiu remontá-la quando ganhou o Prêmio Myriam Muniz. Sem perder de vista a conexão com o presente, Lúcia Coelho viaja por um passado efervescente e amoroso. "Eu brinquei muito na rua. Moro até hoje na mesma casa. Assisti ao Cassino da Urca em pleno funcionamento. Algumas coisas, porém, não mudam nunca. Afinal, nascemos iguais e somos programados pelos pais e pela sociedade. E os melhores pais são aqueles que conseguem respeitar as próprias tendências dos filhos", aposta.