O sonho do Quixote sertanejo

por Inez Viana


Li “O Auto da Compadecida” na CAL, onde me formei, em 1987, mas a primeira vez que ouvi falar do “Romance d´A Pedra do Reino” foi através do diretor Aderbal Freire-Filho durante os ensaios do musical “Gardel: Uma Lembrança”. Ele dizia, que na década de 70, comprava este livro para presenteá-lo aos amigos. Achei um exemplar num sebo e li. A história é simplesmente genial. Fiquei encantada com este universo mítico sertanejo, a Cavalgada, o Sebastianismo, a moça Caetana, as mentiras de Quaderna, etc.

Em 1997, estava fazendo uma turnê pelo Nordeste com as atrizes Laura Cardoso e Arlete Salles. Quando chegamos no Recife, elas convidaram Ariano Suassuna e sua mulher Zélia para assistirem ao espetáculo. Ao final, foram nos cumprimentar no camarim e fiquei de novo encantada, mas, agora, com a figura de Ariano, sua lucidez e seu brilhantismo. Quando voltei para o Rio, mergulhei em sua obra e resolvi fazer um documentário sobre a Cavalgada à Pedra do Reino, que existe há 14 anos, por causa de seu “Romance”. O escritor foi o narrador principal do filme, para meu completo deleite.

Depois disso, ainda produzi dois eventos sobre ele: no Rioscenarium, o primeiro “Festival Ariano Suassuna”, em 2001 e, no Espaço Sesc Ariano Suassuna – “O Armorial”, em 2004. Os dois foram prestigiados por ele e sua família.

Agora, à convite da produtora Sarau, numa parceria com o Arte Sesc e a Petrobras, estou fazendo a coordenação artística de “Ariano Suassuna 80 anos”, homenageando mais uma vez, com muita alegria, esse Quixote Sertanejo, indispensável ao Brasil de hoje.
 
OS OITENTA ANOS 
Ariano Suassuna, chega aos oitenta anos com os mesmos sonhos de adolescência: ver um Brasil unificado e justo. É emocionante ver como luta, corajosamente, dia-a-dia, ao lado de sua amada Zélia, contra os que desvalorizam a nossa rica cultura, empobrecendo ainda mais o povo do Brasil Real, como um dia falou Machado de Assis.
 
No Brasil que Ariano sonha, não existe fome, nem diferenças sociais, ninguém é analfabeto, ninguém é oprimido, nem injusto. Os políticos pensam no bem estar do povo, em sua educação. Todos pensam no futuro de seus filhos e não permitem que desmatem irresponsavelmente nossas florestas, nem poluam nossos rios e mares. Todos têm orgulho de ser brasileiros e cantam e dançam, no Brasil que Ariano sonha.  
Proponho um presente especial para os seus oitenta anos: que a gente comece a sonhar também com um Brasil mais belo. E aí, quem sabe, quando formos comemorar os cem, muita coisa desse sonho já tenha se transformado em realidade.   

Viva Ariano!

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