Amar ou Seduzir?

Papo com quem está começando

por Cécil Thiré


Essa conversa é endereçada a você que já foi picado pela mosca; já optou e está a fim. Resolveu ser ator ou atriz e está se preparando ou em início de carreira.
           
Como tudo começou você se lembra bem: em casa todo mundo sempre disse que você era tão desinibida(o) e engraçadinha(o); que tinha que ir para a televisão. Ou então: “bonito(a) desse jeito tem que aproveitar para se modelo e quem sabe acaba na TV”; ou você mesmo(a), no escuro da platéia, num momento intenso de auto-avaliação se sentiu invadido(a) por uma paixão  e decidiu – “ É isso que eu quero! Seja teatro, seja cinema, seja televisão. É isso! É representar, ser uma atriz! Ser um  ator!”
           
Qual o melhor caminho? Amizades, contatos, testes? Se você é mais prudente e perseverante, uma escola! Sem desprezar nenhuma das outras oportunidades.
           
Mas até aqui você conseguiu! Entrou! Fez participações na TV ou peças no seu colégio, ou grupo amador. Trabalhou  em curta metragem  ou propaganda, mas o fato é que você conseguiu começar. Se foi conseqüente e aplicado, entrou para uma  boa escola.
           
Agora é preciso sorte e sabedoria para encaminhar seus passos pela estrada boa.
           
Uma grande divisão se abre dentro de você, quer você perceba, ou não. Seu interesse maior está voltado para a fama e as recompensas que a arte de representar pode trazer à sua vida? Ou você se apaixonou e gosta mesmo é do jogo, de estar em cena, de fazer de conta que é outra pessoa?
           
É a isto que estou chamando de amar ou seduzir. Se o nosso objetivo é sair na Revista Caras, ser convidado para a entrega do Prêmio Shell, ter o rosto estampado nas páginas da Imprensa, creio  que estamos apenas  de olho nos resultados; nos frutos que podem vir da atividade do ator (atriz). É provável que, mesmo alcançando algumas dessas metas – seja graças às nossas habilidades nas relações públicas ou aos nossos bons contatos –, é provável que nossa carreira tenha pernas curtas e passemos como um belo e fugaz meteoro. Como, infelizmente,  já pude ver ao longo de tantos anos de carreira.
          
Mas se você escolhe o amor e não a sedução, se você   deixa-se levar pelo prazer de bem compor sua personagem, de  estabelecer um jogo cúmplice e criativo com seus comparsas de cena. Se você  abre seus sentimentos para bem preencher suas motivações na obra; em resumo, se você se entrega ao prazer de representar, procurando sempre se aperfeiçoar mais e mais no jogo cênico, o provável é que a atividade o recompense com a fama e os frutos e que você tenha – são os meus votos – uma longa vida na arte.

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