SEM ESPERAR POR PATROCÍNIOS E CONVITES, JOVENS ATORES DA CAL TRILHAM O CAMINHO DA PRODUÇÃO
por Daniel Schenker Wajnbenrg



Os atores não estão mais esperando por convites. Alguns espetáculos devem as suas concretizações à determinação de jovens profissionais. São os casos de "Vamos fazer uma festa enquanto o dia não chega", montagem de Gilberto Gawronski para "Pode ser que seja só o leiteiro lá fora", texto de Caio Fernando Abreu; "Esses anos estúpidos e perigosos", versão de João Fonseca para o original de George F. Walker; "Bent", de Martin Sherman, encenação de Luiz Furlanetto; "Corrida aos céus", escrito e dirigido por Pedro Antônio Paes; "Infraturas", reunião de textos curtos de Fabio Porchat, que, agora, está dirigindo uma versão de "Picnic no front", de Fernando Arrabal, com estréia prevista para maio, e redigindo esquetes para o programa "Zorra total", da TV Globo; "Cidade vampira", concebido por Henrique Tavares, que volta a cartaz no Teatro Maria Clara Machado; e do ainda inédito "Cova rasa", de John Hodge. Não se pode esquecer de grandes sucessos de bilheteria - como o monólogo de Monica Martelli, "Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou", e a comédia de esquetes "Surto" - e de grupos que vêm realizando trabalho contínuo ao longo do tempo - como é o caso do Alice 118, conduzido por Ana Kfouri. Espetáculos realizados por artistas portadores de propostas cênicas diversas, mas que trazem um traço em comum: foram formados na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL).

A importância da escola na solidificação do vínculo de Monica Martelli, Fabio Porchat e dos atores de "Surto" com o humor já foi ressaltada anteriormente. Henrique Tavares também enveredou pela comédia em "Barbara não lhe adora", que extrai graça da figura do crítico famoso e rigoroso. Mas buscou outras tonalidades em "Cidade vampira", espetáculo inspirado no caso Suzane von Richtofen, escrito em parceria com Fausto Fawcett - que se apresentava em cena ao lado das Valkírias 666. Tendo terminado a escola no início da década de 90, Henrique abriu a Janeiro Produções ao lado dos atores Antonio Fragoso e Carla Faour, também formados na CAL.

"No começo dos anos 90, era natural buscar um direcionamento no teatro infantil, muito forte naquele momento. Havia estímulos, como o Projeto Coca Cola de Teatro Jovem", explica Henrique, que realizou quatro infantis. Mas o teatro infanto-juvenil foi perdendo espaço ao longo do tempo e Henrique Tavares começou a se afastar desta seara e caminhar em direção ao chamado "teatro adulto". Surgiram vários espetáculos, alguns baseados em pesquisas de espaços não-convencionais: antes dos já citados "Barbara não lhe adora" e "Cidade vampira", "Cine-teatro Drive in", montagem realizada dentro de um estacionamento na Cinelândia que foi patrocinada pela Telemar e agora será realizada por outro produtor em São Paulo e Curitiba, "Genética", baseado na contraposição entre o melodrama e a visão futurista de um mundo em que a clonagem de seres humanos é vista como normal, e "Telecatch", encenado num ringue de box, sobre os programas de luta livre da década de 60.

Já "Vamos fazer uma festa enquanto o dia não chega" e "Esses anos estúpidos e perigosos" estão interligados. Ambos nasceram do trabalho conjunto dos atores Carolina Portes, Fabrício Belsoff, Moacyr Siqueira e Pablo Sanábio, sócios na Ordinária Produções Artísticas, que passaram a produzir não só seus próprios projetos teatrais como também outras empreitadas. No momento, estão envolvidos em seis produções: além de "Vamos fazer a festa..." e "Esses anos...", "Tipos", musical de Oswaldo Montenegro; "Uma história de amor", montagem de Nara Keiserman para a obra de Henry Miller; a já citada "Picnic no front"; "A ratoeira", de Agatha Christie, que chegará ao palco pelas mãos de João Fonseca; e "Cova rasa", projeto original do ator Leonardo Carvalho que será dirigido por Luiz Furlanetto.

Em relação às suas montagens, os atores da Ordinária Produções pesquisam textos e compram os direitos. "No caso de 'Esses anos estúpidos e perigosos', negociamos diretamente com o autor e pagamos R$ 3 mil mais os 10% do valor arrecadado na bilheteria. 'A ratoeira' custou R$ 9 mil, mas temos os direitos por dois anos", conta Pablo, que estará em cena ao lado de Carolina, Fabricio e Moacyr nesta montagem, orçada em R$ 400 mil. Já no caso de outros espetáculos, a firma ten sido chamada para realizar a produção. "Queremos virar a maior produtora de teatro do Brasil".

Antes de fundarem a Ordinária, alguns atores já estavam envolvidos com produção. Carolina, por exemplo, foi assistente de produção nas montagens de "As pequenas raposas" e "Indecência clamorosa". Outros ex-alunos vêm seguindo o mesmo caminho, como Gustavo Rodrigues e Augusto Zacchi, protagonistas de "Bent", que ajudaram Hermes Frederico, coordenador da CAL, na produção da montagem que, dado o sucesso, deverá ter sua temporada prorrogada no Rio. "Sou ator e produzo para viabilizar meus projetos sem depender de patrocínio", sintetiza Gustavo, que está, no momento, gravando a novela "Cidadão brasileiro", na Rede Record. Antes de "Bent", Gustavo participou do processo de outras montagens, como "Trainspotting", "Laranja mecânica" e "Os vencedores" - esta última, sua produção em parceria com Hermes, que, por sua vez, anuncia seu próximo projeto: a encenação de "Outono e inverno", de Lars Norén.

Há também quem esteja dando seus primeiros passos no campo da produção. Aline Carrocino, formada pela CAL, e Álvaro Campos se uniram na Nova Produções, firma que está por trás da montagem de "Corrida aos céus", de Pedro Antônio Paes. "Conheci Álvaro na faculdade de publicidade e decidimos formar uma companhia, o Grupo Mimo, e uma produtora. Como estamos começando, optamos por trabalhar com um texto também novo, recém-escrito, que lidasse diretamente com a linguagem contemporânea. Mas também planejamos produzir para fora", diz Aline, que está em cena ao lado de outros ex-alunos da CAL - Alexandre Braga, Denise Berlim e Thiago Valente.


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