OS HOMENS SÃO DE MARTE... E É PRA LÁ QUE EU VOU!
por Felipe Cabral


Peça prova que com pouco pode-se fazer muito.
Sozinha e segura em cena, Mônica Martelli agrada como a solteira desesperada.

Em cartaz no Teatro Vannucci, a comédia sobre uma solteira em busca de seu grande amor continua enchendo o teatro todas as noites. Previsto para encerrar a temporada no final do ano, o espetáculo não deixa a desejar no quesito diversão. Vindo de um teatro menor, o Cândido Mendes, em Ipanema, a peça "Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!", escrita pela própria atriz Mônica Martelli, consolida seu sucesso.

Em tempos em que a produção teatral está cada vez mais difícil, essa peça tornou-se uma grata surpresa. Sem nenhum patrocínio, Mônica conseguiu o que poucos conseguem: começar um projeto independente, começar num teatro pequeno e alcançar o sucesso.

Evidentemente isso se deu devido ao talento e qualidade de Mônica, indicada ao Prêmio Shell para melhor atriz. Retratando uma sessão de terapia, ela interpreta Fernanda, uma mulher que aos 37 anos continua solteira e desesperada para encontrar alguém. A fórmula, que já havia sido usada em outro grande sucesso teatral, "Divã", de Ernesto Picollo, consegue envolver a platéia, que é colocada como participantes da terapia. A graça já começa com o fato da personagem trabalhar com organizações de festas de casamentos, com mulheres que já têm tudo o que ela não tem.

A atriz tem o mérito de conseguir em cena prender a atenção da platéia do princípio ao fim sem deixar a peteca cair. A direção de Victor Garcia Peralta é boa e consegue manter um bom ritmo. As marcações são simples e os jogos com a luz tornam tudo mais simples.

Dividido em partes, ou lembranças, o espetáculo não cansa. O fato da própria Mônica ter escrito o texto faz com que ela fique à vontade o tempo todo no timing certo para a personagem. Em nenhum momento vemos a atriz se esforçando para fazer graça, tudo ali parece natural.

Pela própria temática, a peça atingirá o público feminino em cheio e grande parte do seu sucesso se deve a identificação que as mulheres, solteiras ou não, têm. Para os homens que assistirem, o riso não desaparece, mesmo que possivelmente em outra intensidade.

A cenografia de Clívia Cohen, composta por um simples sofá sem encosto nem braços e um fundo quadrilátero é suficiente. O figurino assinado por Marcella Virzi é um show à parte. Vestindo um "pretinho básico", a cada nova cena a atriz modifica sua roupa, continuando a vestir um traje preto, mas com um modelo diferente. Quando o espectador pensa que não existe mais outras possibilidades, lá vem outro tipo de vestido e surpreende a todos. Evidentemente, é preciso uma ajuda feminina para reparar nisso, mas, como elas são a maioria ali, o fato não passa despercebido.

Por isso, com o essencial para uma boa peça, ou seja, bom texto, boa atriz, bom cenário e bom figurino, o divertimento está garantido. Uma prova de que para fazer bom teatro não é preciso muito.


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