CRÍTICA: SENHOR DAS FLORES

Daniela Figueredo Moreira


Falar do espetáculo "Senhor das flores" é relembrar o ditado popular que diz: "Aqui se faz, aqui se paga". Essa obra de Vinícius Marques discute a ética nas relações pessoais e questiona até que ponto a felicidade de uns não ocasiona a infelicidade de outros. Dirigida por Caco Ciocler, a peça é impactante, intensa e provocante.

De um lado um professor universitário, de outro um jovem rapaz. O que eles têm em comum? A paixão pela mesma mulher, Júlia, que faz com que o destino desses dois homens se cruze e se torne tão semelhante. O que em princípio se apresenta como a inconformidade do personagem Otto diante do abandono e da traição de sua amada muda completamente de eixo quando, seis anos depois, ele e o amante, Julien, choram a mesma morte.

Uma das riquezas de "Senhor das Flores" é provocar no público diferentes interpretações. O cenário é um ponto forte da peça. Além disso, a bela trilha sonora acompanha a intensidade de emoções dos personagens e dos acontecimentos no espetáculo. A atuação de Jonas Bloch é outro aspecto grandioso. O ator consegue evidenciar com simplicidade toda a complexidade de sua personagem.

O texto é carregado de poesia e humanidade. É simples, mas profundo. Fala de pessoas comuns, que sofrem, amam, desejam, destroem. Fala das perdas que temos que enfrentar na vida e da grande dor que elas nos causam. Emociona, pois apresenta o humano tal como ele é, com as qualidades e também os defeitos que possui. Não se trata de um herói, mas de um homem complexo, que traz dentro de si a bondade e a maldade, o amor e também o ódio.

"Senhor das flores" se apresenta como uma alternativa diante de
tantas peças que não fazem mais do que entreter o espectador.
É um espetáculo reflexivo e poético que critica a busca pela felicidade
a todo o custo e fala de perdas e ganhos, índole, moral e ética.

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